Prefácio do livro A Queimada por Márcia Lima

 


Prefácio do livro A Queimada por Márcia Lima

 

            Ao ler esta obra concluímos definitivamente o quanto é instigante. A narrativa é uma ficção criada a partir da intensa criatividade do autor, com toques de veracidade por vezes sutis, por vezes nem tão sutis assim, característica própria do universo de meu amigo Lunas Costa.

           Ele criou uma estória que mistura elementos culturais de várias etnias e faz o leitor se transportar para um passado árido, denso, assim como foi o povoamento e formação do nosso Agreste pernambucano

           Tudo se inicia com uma paixão, daquelas que cega o indivíduo e leva o “nobre” personagem central a cometer um ato impulsivo que promoverá uma reviravolta tão intempestiva em sua vida, que o faz sair de Portugal no final do Século XVI, condenado ao degredo (exílio) na colônia “Brasil”, sua existência passa a ser um emaranhado de sentimentos como medo, saudade, curiosidade, ambição, solidão e o nascimento de uma grande amizade.

           Em meio a ciganos, judeus, corsários, escravos e indígenas, emoções  e situações conflitantes, se destaca a amizade que une,  durante a longa travessia do Atlântico, dois homens, diferentes em tudo, mas profundamente ligados pelos laços da amizade verdadeira que supera o tempo e as adversidades.

           É interessante perceber como os valores morais da época, ligados as instituições como a Monarquia Portuguesa e a Igreja Católica Romana, ainda que tenham evoluído substancialmente através dos séculos, ainda permanecem nos dias atuais norteando muitas mentes. A narrativa se passa em tempos remotos, mas tem pinceladas de tantos acontecimentos e situações que a nossa sociedade ainda vivencia mesmo nesse  mundo pós-moderno.

           Enfim, a leitura nos proporciona uma viagem no tempo, nos fazendo sentir parte do contexto, como uma lembrança guardada na memória, como se fôssemos um daqueles personagens, o cheiro das queimadas, o sabor da farinha de mandioca, a visão dos bexiguentos, o sangue derramado, a vida que segue. Tudo está descrito com maestria. É o nosso passado, a nossa História, nosso povo, assim nasceu nossa terra, esse lugar no mundo.

           Voltamos ao presente e ainda nostálgicos nos questionamos sobre o futuro, é tempo de (re)pensar o momento atual  e crucial que a humanidade se encontra e olhar pra frente, com a experiência do passado buscando novos caminhos, mais leves e plenos, sempre priorizando o bem da coletividade.

           Sinto-me feliz e honrada com o convite do amigo Lunas Costa, e por partilhar comigo sua criação.

           Que você continue sendo esse “matuto arretado de Bom”.

 

Márcia Maria de Vasconcelos Lima

Professora de história


A QUEIMADA - Sinopse: Após ser acusado de um crime, o jovem português Manoel Gonzaga é condenado ao exílio no Brasil Colônia. Manoel vê seu futuro incerto e lamentável transformar-se em grandes oportunidades para adquirir conhecimento, e torna-se um homem bem sucedido no Novo Mundo.
Porém seu sucesso dependerá da instalação de um assentamento no Agreste pernambucano, que ainda se mantêm com a mata nativa intacta, e a forma mais rápida de limpar a área é usando uma primitiva técnica indígena que é A QUEIMADA.                                     
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